sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Os nossos troféus


Eu sempre acho engracado quando tenho de ir visitar alguém e ir já fazendo a previsao do que me aguarda quando cruzo aquela porta mais uma vez. As pessoas muitas vezes nao se dao conta do quanto sao repetitivas. Tenho um tio cuja paixao é o álbum de fotografias! Eu já perdi a conta de quantas vezes vi aquelas fotos: da filha a soprar velas, dos sobrinhos a tomar banho de cachoeira, daquela viagem à Alemanha, daqueles passeios ao campo, enfim... sempre a mesma coisa. Pode-se dizer que esse meu tio já descobriu tudo quanto é tecnologia revolucinonária para criar álbuns de fotografia. Só falta criar um álbum 3D msm!

Numa das minhas viagens de férias, esse meu tio queria enviar um presente a um parente, e adivinha o que saiu daquele pacote? Um álbum de fotografias criado por ele e sua família.

Pensando nisso lembrei-me do meu pai que tem um orgulho enorme da minha irma artista. Ela, aos 19 anos faz tudo quanto é arte: pinta, canta, representa, escreve, imita vozes, enfim... vocacao pra tudo mesmo! Mas como eu ia dizendo, meu pai, que tem um grande orgulho das suas pinturas, sempre que chega uma visita à nossa casa, a pessoa é imediatamente encaminhada aos quartos a fim de darem uma olhadela nas suas criacoes. Assim, fico pensando, se tal como eu nas visitas ao meu tio e aos seus álbuns de fotografia, as visitas da minha casa sabem que também vao visitar as pinturas da minha irma. :)

Mas acho que é assim com todo mundo, em tudo quanto é lado. As famílias tem seus orgulhos e a necessidade de mostrar os seus troféus. Um dia talvez quando tiver a minha, também farei a mesma coisa. :)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Salvador da Pátria


Cabo Verde é um país onde a oferta de mercado é muito limitada em quase tudo. Principalmente no que concerne aos bens de consumo. E é por isso que sempre que alguém conhecido ou da família resolve sair para o exterior, seja por quanto tempo for, essa pessoa passa a ser um Deus glorioso, salvador da pátria. Passo a explicar melhor: Nestas circunstâncias, o que não falta ao pobre coitado que resolveu tirar uns dias de férias são listas de pedidos de tudo o que se possa imaginar. A pessoa vira um Deus porque a ela se agarram dezenas de pessoas com unhas e dentes, vendo nela o último meio de salvação... pelo menos até que outra pessoa apareça com os mesmos planos. Eu já vi de tudo nestas listas de pedidos: roupas, sapatos, battom, perfume, DVD, bolsa, livro... mas convenhamos que estes pedidos até que são normaizinhos, qualquer um pedia... mas num país como Cabo Verde os pedidos podem ser supreendentes ou até estranhos. Numa das listas da minha mãe para Portugal eu vi duas coisas bem engraçadas e embora uma até chega a ser normal, a outra foi no mínimo inacreditável: essência de amêndoa - essa foi um pedido da minha tia que gosta muito de fazer bolinhos e queijadinhas em casa... através deste pedido, fiquei sabendo que encontrar produtos que forneçam aromas e sabores aos doces é uma das tarefas complicadas do meu tão amado país; Mas o cúmulo de tudo o que já vi, foi uma senhora que nas 2 viagens feitas pela minha mãe para me visitar (em Portugal) pediu sempre a mesma e única coisa - uma esponja para lavar pratos!!! Cabo Verde pode até ser um país limitado em certas coisas e como já referido, limitado em alguns bens de consumo... mas esponja para lavar pratos eu garanto que tem! Mas essa senhora, em tudo o que o mercado de bens Português tem para oferecer - roupas, sapatos, jóias, livros, DVD's, cosméticos, bolsas, chocolates, perfumes.... - essa senhora tinha e continua tendo um único desejo - uma esponjinha para lavar pratos.

É por isso que digo que quando alguém de Cabo Verde viaja, essa pessoa passa a ser um Deus para os amigos e familiares. Um Deus onde elas se agarram com unhas e dentes e fazem os seus pedidos. O Deus glorioso e salvador da pátria! ;D

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Taxista


Apetece gritar! Ninguém é tão grande que não tenha mais o que aprender... vivendo e aprendendo... caindo e levantando. É assim a vida, mas às vezes apetece gritar! Porque há pessoas que tiram proveito das nossas fraquezas, tentam subir à custa delas porque este mundo virou uma selva e cada um salva-se como puder.

Peguei um táxi para seguir um trajecto que costuma ser curto e barato... e sei disso porque fiz esse trajecto inúmeras vezes e inúmeras vezes paguei sempre a mesma coisa, caso não tiver a infelicidade de ficar presa no trânsito... então porque é que nesse dia o estúpido do motorista cobrou o dobro? Perguntei o motivo e a resposta veio num sussurro... típico de quem mente e tem medo de ser apanhado. "Porque hoje é domingo e a tarifa é mais cara."

"Mudou a lei?", perguntei. Mas não preciso de ouvir a resposta e nem de correr à net para verificar... é apenas mais um a querer tirar proveito das pessoas. Insisto com o sujeito, tento defender os meus direitos e mostrar que não está certo. Mas logo desisto pq não vejo saída senão pagar. Se fosse homem talvez insistisse mais, por ter a vantagem da força física no caso de ter que me defender...
Mas a minha ingenuidade às vezes trapaceia-me e quando me lembro de uma solução já é tarde. Podia ter tirado a matrícula do carro e levado à polícia mais próxima. Mas ele já arrancou a mil e desaparece, deixando para trás apenas o sentimento de injustiça e impunidade.

Mas apetece gritar! Porque a minha ingenuidade trapaceia-me e porque ainda tenho muito que aprender. Porque assim como todo mundo, ninguém é tão grande que não tenha mais o que aprender. E vivo cometendo erros, vivo criticando-me, tentando corrigir o que em mim está errado, tentando me alertar e cercar-me de ferramentas que permitam-me defender deste mundo que virou uma selva.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O menino e o Jornal


A maioria dos cenários que descrevo decorrem no metro ou autocarro, porque é o trajecto que faço todos os dias e muitas vezes o momento ideal para olhar à minha volta e observar as pessoas, os seus comportamentos.

Nesse dia o que me chamou a atenção foi uma mulher na casa dos 37 anos que entrou com o filho pequeno. O miúdo não devia ter mais de 4 anos. A mãe entra, senta o filho ao colo e abre o jornal, numa tentativa de se relaxar e informar-se um pouquinho que seja sobre o que se passa no mundo. Com um filho daquela idade, certamente não terá tido tempo no dia anterior para assistir ao telejornal ou qualquer programa transmitido àquela hora. Às 8 da noite, devia estar muito atarefada a dar banho no miúdo, preparar o lanche do dia seguinte, cozinhar o jantar... e, portanto, o único tempo que lhe sobra para estar a par das notícias são esses míseros 15 minutos que faz entre a casa e a creche da criança.

O único problema deste caso é que o miúdo ao sentar-se no colo da mãe, fica mesmo de frente ao jornal e o que ela não contava é que este provocasse nele uma súbita e avassaladora onda de interesse. O miúdo ficou como que petrificado quando a mãe abre o jornal em frente à cara dele e prevejo o que vem a seguir quando o vejo instalar-se mais confortavelmente no colo da mãe. Os olhos dele estão esbugalhados e a cara dele enterrada no jornal. É claro que a partir daí a mãe já perdeu o domínio do seu próprio jornal, que sem ela se aperceber bem, deixou de a pertencer assim que os olhos do filho pousaram nele.
À primeira tentativa para mudar de página o miúdo dá um berro e agarra o jornal pq quer voltar à página anterior. Ela ainda tenta por mais uns minutos, mas ele dá luta e agarra o jornal porque quer ter controlo sobre o mesmo e decidir que páginas quer ver, aquelas que trazem um número maior de figuras e cores.
A mãe ainda pensa lutar, mas está cansada de mais para insistir, já os nervos lhe tomaram conta da pele e desiste. Não quer mais saber do jornal, deixa o miúdo apoderar-se dele e esquece as notícias do mundo. Um dia alguém lhe conta ou então deixa ficar assim. Desliga-se do mundo, vai criar o filho e quando ele crescer e ela tiver paz e sossego, talvez volte a prestar atenção sobre o que se passa e fica a par das notícias.
Olho para ela e esboço um sorriso de cumplicidade. Mas já ela se encontra muito irritada para me devolver o sorriso e tudo o que consegue é rolar os olhos como que dizendo "que Deus me ajude".

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Foto Tipo Passe




Ninguém fica bem nas fotos tipo passe ou "carinha" como são chamadas na minha terra.
No outro dia, cheguei em casa aos pulos, pois havia conquistado um facto mesmo histórico, algo jamais vivido por mim, em todos os meus 23 anos! Consegui tirar uma carinha que ficasse mesmo boa! Como isso é uma raridade e algo que provavelmente só acontecerá uma vez na vida, achei por bem que esta carinha era digna de ser relembrada e ter direito a 12 versões em vez das 6 normais. O primo que morava comigo comentou que realmente era motivo para celebração, pois ele, tal como todos os mortais na terra (pelo menos que eu conheça), reclamam da mesma infelicidade em relação a essas fotografias.

Lembro-me de uma amiga que veio ter comigo com ar doente e cabisbaixo, depois de uma ida à loja do cidadão para fazer o BI. Disse que ia para casa dormir sobre o assunto.
É que ainda por cima inventaram agora um sistema digital que tem a capacidade de nos "destruir" ainda mais. Se aquelas no fotógrafo já não ficavam bem, essas então nos desfiguram por completo. As carinhas têm o dom de acentuar os nossos defeitos visuais. Eu, como tenho o rosto alongado, quando tiro uma carinha, fico a parecer um pau de tão comprido. Tenho uma prima que por ter o rosto bem redondinho, ouviu-me reclamar e disse-me que devia conformar, pois o efeito contrário era bem pior. Mostrou-me o BI dela e realmente senti-me melhor ao ver o rosto dela que parecia desenhado a compasso... Meu tio, o pai dela também mostrou-me o dele e parecia um lobo carrancudo.
Minha mãe uma vez na tentativa de transmitir um olhar bonito e atraente, obteve como resultado uma foto onde parecia ter visto um fantasma de tão arregalados que os olhos ficaram. Parecia mesmo ter levado um susto!

No dia em que fui fazer o meu BI e passar pelo tal sistema digital que mais lembra uma guilhotina, passei horas ao espelho na tentativa de salvar a minha pele com aquele documento de longa duração. Um falhanço na foto deste documento, implica o teu rosto exposto a todas as instituições e entidades por um período mínimo de 5 anos!
Ao pousar-me em frente à máquina, deram-me 5 segundos para olhar fixamente um pontinho onde uma luz vermelha piscava ironicamente com o intuito de te deixar ainda mais nervoso e a tentar controlar os nervos numa tentativa frustrada de obter bom resultado.
Primeiro disparo e o resultado veio traumatizante! Viro-me para a mulher e pergunto se há possibilidade de tirar outra, mas essa é decidida na sua resposta:
"A foto foi aprovada pelo sistema, não há necessidade de tirar outra."
Pois não há, não há pq não foi com ela. Não há porque o maldito sistema não foi instruído para levar em conta dicas de estética ou good looking. É apenas um mísero sistema digital e não um instituto de moda e beleza. E ela já deve estar mesmo farta de discutir esse assunto com a população toda do país, todos os santos dias da sua vida. E fico assim, mais uma vez com o tal documento que dura 5 anos e a minha cara desfigurada por todas as instituições do país e exterior.

Quando tirei a tal carinha boa já era tarde. Era tarde pq já tinha feito o tal documento e o nosso sistema digital já não fornece a opção de levares a tua própria fotografia. Resta-me a opção de as guardar... as 12 magníficas versões que se calhar até já nem terei oportunidade de usar pq com as novas tecnologias, estes sistemas digitais serão implantados em tudo quanto é canto... E a solução mesmo é conformar que o maldito documento terá sempre o teu rosto desfigurado... porque é da praxe ser assim.

terça-feira, 22 de junho de 2010

O senhor "Tossante"


Assim como o autocarro, também não gosto do metro! No geral odeio transportes públicos, por sermos obrigados a aturar as "morraças" de cada um. Nestes ambientes há de tudo um pouco... bêbados, mal cheirosos, "peidantes" e uma lista muito comprida de tudo o que se pode considerar falta de higiene.

No outro dia, vinha com o meu livro quando de repente oiço um daqueles a quem chamo de "tossantes". Os "tossantes" são aqueles que possuem uma tosse que vai muito além de uma doença ou má disposição. Esta é a tosse "aguenta comigo". Pobre do sujeito que estiver do lado! Será uma viagem inesquecível, a contar os minutos para a descida.

Nesse dia, o pobre sujeito do lado era uma grávida. Mulher nova com cara de 25 anos e uma barriguinha proeminente. O seu companheiro de viagem, o sr "Tossante" começou a terapia assim que se sentou... e tossia, tossia, tossia. A meio das tossidelas penso que se engasga e daí mais um balanço e continua a terapia... mais e mais tosse. O intervalo de tempo entre uma tosse e outra era aproximadamente 1 milésimo de segundo ou coisa parecida... pobre mulher. Olhava para o homem com ar de desgosto e suplicava nos seus pensamentos que o sujeito parasse. O homem devia ter uns 57 anos e uma barriga de atleta de sofá... na barriga os dois até que coincidiam... no conteúdo da barriga e tudo o resto é que não...

É que sentar ao lado dos "tossantes" é msm um suplício. A cada tossidela ficas a perguntar a debandada de germes que daí vem juntamente com o magnífico "senhor mau hálito", capaz de te fazer rezar por uma desculpa para escapulir dali o mais rápido possível.

Quando se está grávida, sair dali é mais difícil, pois isso implicaria ir então de pé carregando aquela barriga aos solavancos do transporte... coitada, não teve opção mesmo. E ficou ali, sentada, quietinha... ao som da música do senhor "Tossante".

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Mala


“Mala”… todo mundo tem um “Mala”. Esta palavrinha tão pequena e expressiva, usada pelos brasileiros, serve para distinguir certas pessoas que entram nas nossas vidas não se sabe de onde, se foi por um motivo concreto ou de pára-quedas mesmo… a única coisa que se sabe é que elas chegaram de “mansinho”, entraram, “tomaram conta do pedaço” e causaram o maior distúrbio alguma vez vivido! Sim, há pessoas que podiam ser comparadas a um furacão que no final não se notaria qualquer diferença. Um furacão chega com um ventinho fraco só para anunciar a sua chegada, entra, destrói tudo e vai-se embora, deixando para trás destroços e prejuízos incalculáveis. Pois bem, é exactamente a mesma coisa. Sabes aquela pessoa que não te traz benefícios nenhuns? Aquela que só de a ver atravessar aquela porta dá-te arrepios? Com ela é impossível ter uma conversa construtiva ou no mínimo divertida… mexe nas tuas coisas, pede emprestado e nunca mais devolve, ou pior, devolve em mau estado e ainda corres o risco de ela virar as costas e falar mal de ti a todo momento. Aposto que já pensaste que foi “macumba” de alguém. Mas não, acho que todo mundo tem um Mala ou pelo menos teve em algum momento da sua vida. Se ainda não teve, continua a aguardar que ele aparecerá. Para aqueles que tiveram, meus parabéns se ele já se foi embora. Se ainda não foi, tenha paciência, como disse ele vem e vai... e vai porque tem outras vidas a destruir... assim como todo furacão.