sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Os nossos troféus


Eu sempre acho engracado quando tenho de ir visitar alguém e ir já fazendo a previsao do que me aguarda quando cruzo aquela porta mais uma vez. As pessoas muitas vezes nao se dao conta do quanto sao repetitivas. Tenho um tio cuja paixao é o álbum de fotografias! Eu já perdi a conta de quantas vezes vi aquelas fotos: da filha a soprar velas, dos sobrinhos a tomar banho de cachoeira, daquela viagem à Alemanha, daqueles passeios ao campo, enfim... sempre a mesma coisa. Pode-se dizer que esse meu tio já descobriu tudo quanto é tecnologia revolucinonária para criar álbuns de fotografia. Só falta criar um álbum 3D msm!

Numa das minhas viagens de férias, esse meu tio queria enviar um presente a um parente, e adivinha o que saiu daquele pacote? Um álbum de fotografias criado por ele e sua família.

Pensando nisso lembrei-me do meu pai que tem um orgulho enorme da minha irma artista. Ela, aos 19 anos faz tudo quanto é arte: pinta, canta, representa, escreve, imita vozes, enfim... vocacao pra tudo mesmo! Mas como eu ia dizendo, meu pai, que tem um grande orgulho das suas pinturas, sempre que chega uma visita à nossa casa, a pessoa é imediatamente encaminhada aos quartos a fim de darem uma olhadela nas suas criacoes. Assim, fico pensando, se tal como eu nas visitas ao meu tio e aos seus álbuns de fotografia, as visitas da minha casa sabem que também vao visitar as pinturas da minha irma. :)

Mas acho que é assim com todo mundo, em tudo quanto é lado. As famílias tem seus orgulhos e a necessidade de mostrar os seus troféus. Um dia talvez quando tiver a minha, também farei a mesma coisa. :)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Salvador da Pátria


Cabo Verde é um país onde a oferta de mercado é muito limitada em quase tudo. Principalmente no que concerne aos bens de consumo. E é por isso que sempre que alguém conhecido ou da família resolve sair para o exterior, seja por quanto tempo for, essa pessoa passa a ser um Deus glorioso, salvador da pátria. Passo a explicar melhor: Nestas circunstâncias, o que não falta ao pobre coitado que resolveu tirar uns dias de férias são listas de pedidos de tudo o que se possa imaginar. A pessoa vira um Deus porque a ela se agarram dezenas de pessoas com unhas e dentes, vendo nela o último meio de salvação... pelo menos até que outra pessoa apareça com os mesmos planos. Eu já vi de tudo nestas listas de pedidos: roupas, sapatos, battom, perfume, DVD, bolsa, livro... mas convenhamos que estes pedidos até que são normaizinhos, qualquer um pedia... mas num país como Cabo Verde os pedidos podem ser supreendentes ou até estranhos. Numa das listas da minha mãe para Portugal eu vi duas coisas bem engraçadas e embora uma até chega a ser normal, a outra foi no mínimo inacreditável: essência de amêndoa - essa foi um pedido da minha tia que gosta muito de fazer bolinhos e queijadinhas em casa... através deste pedido, fiquei sabendo que encontrar produtos que forneçam aromas e sabores aos doces é uma das tarefas complicadas do meu tão amado país; Mas o cúmulo de tudo o que já vi, foi uma senhora que nas 2 viagens feitas pela minha mãe para me visitar (em Portugal) pediu sempre a mesma e única coisa - uma esponja para lavar pratos!!! Cabo Verde pode até ser um país limitado em certas coisas e como já referido, limitado em alguns bens de consumo... mas esponja para lavar pratos eu garanto que tem! Mas essa senhora, em tudo o que o mercado de bens Português tem para oferecer - roupas, sapatos, jóias, livros, DVD's, cosméticos, bolsas, chocolates, perfumes.... - essa senhora tinha e continua tendo um único desejo - uma esponjinha para lavar pratos.

É por isso que digo que quando alguém de Cabo Verde viaja, essa pessoa passa a ser um Deus para os amigos e familiares. Um Deus onde elas se agarram com unhas e dentes e fazem os seus pedidos. O Deus glorioso e salvador da pátria! ;D

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Taxista


Apetece gritar! Ninguém é tão grande que não tenha mais o que aprender... vivendo e aprendendo... caindo e levantando. É assim a vida, mas às vezes apetece gritar! Porque há pessoas que tiram proveito das nossas fraquezas, tentam subir à custa delas porque este mundo virou uma selva e cada um salva-se como puder.

Peguei um táxi para seguir um trajecto que costuma ser curto e barato... e sei disso porque fiz esse trajecto inúmeras vezes e inúmeras vezes paguei sempre a mesma coisa, caso não tiver a infelicidade de ficar presa no trânsito... então porque é que nesse dia o estúpido do motorista cobrou o dobro? Perguntei o motivo e a resposta veio num sussurro... típico de quem mente e tem medo de ser apanhado. "Porque hoje é domingo e a tarifa é mais cara."

"Mudou a lei?", perguntei. Mas não preciso de ouvir a resposta e nem de correr à net para verificar... é apenas mais um a querer tirar proveito das pessoas. Insisto com o sujeito, tento defender os meus direitos e mostrar que não está certo. Mas logo desisto pq não vejo saída senão pagar. Se fosse homem talvez insistisse mais, por ter a vantagem da força física no caso de ter que me defender...
Mas a minha ingenuidade às vezes trapaceia-me e quando me lembro de uma solução já é tarde. Podia ter tirado a matrícula do carro e levado à polícia mais próxima. Mas ele já arrancou a mil e desaparece, deixando para trás apenas o sentimento de injustiça e impunidade.

Mas apetece gritar! Porque a minha ingenuidade trapaceia-me e porque ainda tenho muito que aprender. Porque assim como todo mundo, ninguém é tão grande que não tenha mais o que aprender. E vivo cometendo erros, vivo criticando-me, tentando corrigir o que em mim está errado, tentando me alertar e cercar-me de ferramentas que permitam-me defender deste mundo que virou uma selva.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O menino e o Jornal


A maioria dos cenários que descrevo decorrem no metro ou autocarro, porque é o trajecto que faço todos os dias e muitas vezes o momento ideal para olhar à minha volta e observar as pessoas, os seus comportamentos.

Nesse dia o que me chamou a atenção foi uma mulher na casa dos 37 anos que entrou com o filho pequeno. O miúdo não devia ter mais de 4 anos. A mãe entra, senta o filho ao colo e abre o jornal, numa tentativa de se relaxar e informar-se um pouquinho que seja sobre o que se passa no mundo. Com um filho daquela idade, certamente não terá tido tempo no dia anterior para assistir ao telejornal ou qualquer programa transmitido àquela hora. Às 8 da noite, devia estar muito atarefada a dar banho no miúdo, preparar o lanche do dia seguinte, cozinhar o jantar... e, portanto, o único tempo que lhe sobra para estar a par das notícias são esses míseros 15 minutos que faz entre a casa e a creche da criança.

O único problema deste caso é que o miúdo ao sentar-se no colo da mãe, fica mesmo de frente ao jornal e o que ela não contava é que este provocasse nele uma súbita e avassaladora onda de interesse. O miúdo ficou como que petrificado quando a mãe abre o jornal em frente à cara dele e prevejo o que vem a seguir quando o vejo instalar-se mais confortavelmente no colo da mãe. Os olhos dele estão esbugalhados e a cara dele enterrada no jornal. É claro que a partir daí a mãe já perdeu o domínio do seu próprio jornal, que sem ela se aperceber bem, deixou de a pertencer assim que os olhos do filho pousaram nele.
À primeira tentativa para mudar de página o miúdo dá um berro e agarra o jornal pq quer voltar à página anterior. Ela ainda tenta por mais uns minutos, mas ele dá luta e agarra o jornal porque quer ter controlo sobre o mesmo e decidir que páginas quer ver, aquelas que trazem um número maior de figuras e cores.
A mãe ainda pensa lutar, mas está cansada de mais para insistir, já os nervos lhe tomaram conta da pele e desiste. Não quer mais saber do jornal, deixa o miúdo apoderar-se dele e esquece as notícias do mundo. Um dia alguém lhe conta ou então deixa ficar assim. Desliga-se do mundo, vai criar o filho e quando ele crescer e ela tiver paz e sossego, talvez volte a prestar atenção sobre o que se passa e fica a par das notícias.
Olho para ela e esboço um sorriso de cumplicidade. Mas já ela se encontra muito irritada para me devolver o sorriso e tudo o que consegue é rolar os olhos como que dizendo "que Deus me ajude".

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Foto Tipo Passe




Ninguém fica bem nas fotos tipo passe ou "carinha" como são chamadas na minha terra.
No outro dia, cheguei em casa aos pulos, pois havia conquistado um facto mesmo histórico, algo jamais vivido por mim, em todos os meus 23 anos! Consegui tirar uma carinha que ficasse mesmo boa! Como isso é uma raridade e algo que provavelmente só acontecerá uma vez na vida, achei por bem que esta carinha era digna de ser relembrada e ter direito a 12 versões em vez das 6 normais. O primo que morava comigo comentou que realmente era motivo para celebração, pois ele, tal como todos os mortais na terra (pelo menos que eu conheça), reclamam da mesma infelicidade em relação a essas fotografias.

Lembro-me de uma amiga que veio ter comigo com ar doente e cabisbaixo, depois de uma ida à loja do cidadão para fazer o BI. Disse que ia para casa dormir sobre o assunto.
É que ainda por cima inventaram agora um sistema digital que tem a capacidade de nos "destruir" ainda mais. Se aquelas no fotógrafo já não ficavam bem, essas então nos desfiguram por completo. As carinhas têm o dom de acentuar os nossos defeitos visuais. Eu, como tenho o rosto alongado, quando tiro uma carinha, fico a parecer um pau de tão comprido. Tenho uma prima que por ter o rosto bem redondinho, ouviu-me reclamar e disse-me que devia conformar, pois o efeito contrário era bem pior. Mostrou-me o BI dela e realmente senti-me melhor ao ver o rosto dela que parecia desenhado a compasso... Meu tio, o pai dela também mostrou-me o dele e parecia um lobo carrancudo.
Minha mãe uma vez na tentativa de transmitir um olhar bonito e atraente, obteve como resultado uma foto onde parecia ter visto um fantasma de tão arregalados que os olhos ficaram. Parecia mesmo ter levado um susto!

No dia em que fui fazer o meu BI e passar pelo tal sistema digital que mais lembra uma guilhotina, passei horas ao espelho na tentativa de salvar a minha pele com aquele documento de longa duração. Um falhanço na foto deste documento, implica o teu rosto exposto a todas as instituições e entidades por um período mínimo de 5 anos!
Ao pousar-me em frente à máquina, deram-me 5 segundos para olhar fixamente um pontinho onde uma luz vermelha piscava ironicamente com o intuito de te deixar ainda mais nervoso e a tentar controlar os nervos numa tentativa frustrada de obter bom resultado.
Primeiro disparo e o resultado veio traumatizante! Viro-me para a mulher e pergunto se há possibilidade de tirar outra, mas essa é decidida na sua resposta:
"A foto foi aprovada pelo sistema, não há necessidade de tirar outra."
Pois não há, não há pq não foi com ela. Não há porque o maldito sistema não foi instruído para levar em conta dicas de estética ou good looking. É apenas um mísero sistema digital e não um instituto de moda e beleza. E ela já deve estar mesmo farta de discutir esse assunto com a população toda do país, todos os santos dias da sua vida. E fico assim, mais uma vez com o tal documento que dura 5 anos e a minha cara desfigurada por todas as instituições do país e exterior.

Quando tirei a tal carinha boa já era tarde. Era tarde pq já tinha feito o tal documento e o nosso sistema digital já não fornece a opção de levares a tua própria fotografia. Resta-me a opção de as guardar... as 12 magníficas versões que se calhar até já nem terei oportunidade de usar pq com as novas tecnologias, estes sistemas digitais serão implantados em tudo quanto é canto... E a solução mesmo é conformar que o maldito documento terá sempre o teu rosto desfigurado... porque é da praxe ser assim.

terça-feira, 22 de junho de 2010

O senhor "Tossante"


Assim como o autocarro, também não gosto do metro! No geral odeio transportes públicos, por sermos obrigados a aturar as "morraças" de cada um. Nestes ambientes há de tudo um pouco... bêbados, mal cheirosos, "peidantes" e uma lista muito comprida de tudo o que se pode considerar falta de higiene.

No outro dia, vinha com o meu livro quando de repente oiço um daqueles a quem chamo de "tossantes". Os "tossantes" são aqueles que possuem uma tosse que vai muito além de uma doença ou má disposição. Esta é a tosse "aguenta comigo". Pobre do sujeito que estiver do lado! Será uma viagem inesquecível, a contar os minutos para a descida.

Nesse dia, o pobre sujeito do lado era uma grávida. Mulher nova com cara de 25 anos e uma barriguinha proeminente. O seu companheiro de viagem, o sr "Tossante" começou a terapia assim que se sentou... e tossia, tossia, tossia. A meio das tossidelas penso que se engasga e daí mais um balanço e continua a terapia... mais e mais tosse. O intervalo de tempo entre uma tosse e outra era aproximadamente 1 milésimo de segundo ou coisa parecida... pobre mulher. Olhava para o homem com ar de desgosto e suplicava nos seus pensamentos que o sujeito parasse. O homem devia ter uns 57 anos e uma barriga de atleta de sofá... na barriga os dois até que coincidiam... no conteúdo da barriga e tudo o resto é que não...

É que sentar ao lado dos "tossantes" é msm um suplício. A cada tossidela ficas a perguntar a debandada de germes que daí vem juntamente com o magnífico "senhor mau hálito", capaz de te fazer rezar por uma desculpa para escapulir dali o mais rápido possível.

Quando se está grávida, sair dali é mais difícil, pois isso implicaria ir então de pé carregando aquela barriga aos solavancos do transporte... coitada, não teve opção mesmo. E ficou ali, sentada, quietinha... ao som da música do senhor "Tossante".

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O Mala


“Mala”… todo mundo tem um “Mala”. Esta palavrinha tão pequena e expressiva, usada pelos brasileiros, serve para distinguir certas pessoas que entram nas nossas vidas não se sabe de onde, se foi por um motivo concreto ou de pára-quedas mesmo… a única coisa que se sabe é que elas chegaram de “mansinho”, entraram, “tomaram conta do pedaço” e causaram o maior distúrbio alguma vez vivido! Sim, há pessoas que podiam ser comparadas a um furacão que no final não se notaria qualquer diferença. Um furacão chega com um ventinho fraco só para anunciar a sua chegada, entra, destrói tudo e vai-se embora, deixando para trás destroços e prejuízos incalculáveis. Pois bem, é exactamente a mesma coisa. Sabes aquela pessoa que não te traz benefícios nenhuns? Aquela que só de a ver atravessar aquela porta dá-te arrepios? Com ela é impossível ter uma conversa construtiva ou no mínimo divertida… mexe nas tuas coisas, pede emprestado e nunca mais devolve, ou pior, devolve em mau estado e ainda corres o risco de ela virar as costas e falar mal de ti a todo momento. Aposto que já pensaste que foi “macumba” de alguém. Mas não, acho que todo mundo tem um Mala ou pelo menos teve em algum momento da sua vida. Se ainda não teve, continua a aguardar que ele aparecerá. Para aqueles que tiveram, meus parabéns se ele já se foi embora. Se ainda não foi, tenha paciência, como disse ele vem e vai... e vai porque tem outras vidas a destruir... assim como todo furacão.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Eu e Dona Idalina


D. Idalina era minha vizinha, no tempo em que eu ainda vivia em Cabo Verde e frequentava o secundário. Mulher de poucas palavras, sempre arrumada e um tanto acanhada. Esposa do senhor Doutor, nunca me senti à vontade quando tinha de ir à casa deles pedir favores. Abria sempre a porta com um ar de quem já andava saturada dos pacientes inesperados e fora de hora que vinham incomodar o tão solicitado marido.

Naquele dia quando fui ao aeroporto buscar D. Idalina que se encontrava de passagem para Cabo Verde, ia no caminho perguntando a mim mesma que tipo de assunto ou conversa teria com aquela mulher. D. Idalina apareceu ao fim de 30 minutos com os olhos fora de órbita, provavelmente a questionar-se se eu estaria de facto à sua espera.

D. Idalina aspira a imigrante. Traz botas, um polóver branco e um ar de quem vem da Europa, da Europa rica e farta em novidades.

D. Idalina aspira a imigrante. D. Idalina gosta de jóias, jóias de ouro. Ouro branco, amarelo!

Tivemos de ir à minha casa deixar as suas malas, pois fazer o check in até São-Vicente era muito arriscado. Corria o risco de perder aquela “equipagem” (como dizia), cheia de novidades, recheada de camisas e cuecas para o Sr Dr… cremes Vichy (“o melhor do mundo”, informou-me), perfumes, blusas de marca!

Seguimos à baixa com a missão de encontrar a Rua da Prata. Pelo caminho informou-me que ia à procura de um solitário. Eu na minha ingenuidade de menina nova e pobre estudante não percebi do que se tratava e nem perguntei. Era só uma questão de tempo e logo ia descobrir. Entramos numa ourivesaria onde vim a descobrir minutos depois que um solitário não é nada mais do que um anel com uma pedra no topo. O homenzinho da loja olhou para D. Idalina com ar de quem encontrou cliente. Com a idade já devia conhecer de longe aqueles que entravam e não saíam de mãos a abanar. É que D. Idalina aspira a imigrante e gosta de ouro! Todos os imigrantes gostam de ouro!

- Quer ouro branco ou amarelo?

- Mistura!

O pobre do homem olhou para mim com ar confuso, provavelmente a pedir ajuda. Eu como não entendo nada de jóias encolhi os ombros e continuei a observar a situação. Lá acabaram por descobrir um solitário cujo design trazia uma parte em ouro branco e outra em amarelo.

D. Idalina comprou 500€ em jóias de ouro: um par de brincos, um anel solitário e um fio. Tudo para ela!

D. Idalina aspira a imigrante, embora ainda com as “brabezas” da terra. Quando o homem da loja lhe informou que o ouro era de segunda mão, deu um grito que tenho de admitir, fez-me corar!

- Segunda mão??!!

O que não sabia era que o ouro de segunda mão não significava valer menos. As jóias apenas pertenceram antes a alguém, mas foram posteriormente polidas, ficando mesmo novas, só que custam um pouco menos (informação do homem da loja). Devia ter ficado contente com o facto, caso contrário teria passado os milhares de euros. Não ficou muito contente, mas seguimos em frente! Mais tarde veio perguntar-me se se tratava de uma loja conhecida, provavelmente a interrogar-se se lhe haviam passado a perna.

Mulher determinada, D. Idalina! Não conhece o caminho, mas segue em frente sem olhar para trás. Quando a porta do metro abre, ela sai e segue em frente pelo caminho que achar melhor, sem perguntar onde deve virar. Passei o dia a gritar “D. Idalina, é por aqui!”

Passamos o resto do dia no Colombo (claro!) onde tentávamos satisfazer os gostos muito específicos de D. Idalina – um par de sapatos cinza e uma blusa cor-de-rosa bebé. Desistimos! Específico demais!!!

Voltamos para casa e durante cerca de meia hora ouvi o ressonar da D. Idalina à medida que tentava, embora em vão ver um filme.

Acordou com um salto às 5h da tarde, pois o voo era às 22:15, mas queria estar no aeroporto às 19h. Ainda pensei fazê-la mudar de ideias e tentar ir um pouco mais tarde, mas já conheço esse tipo e não adianta. Ir mais tarde apenas ia provocar uma onda de ansiedades e sucessivas espreitadelas ao relógio.

Apanhámos um táxi onde de 2 em 2 minutos gritava ao motorista que avançasse, pois tinha um avião para apanhar (há que frisar que as paragens do homem diziam respeito ao congelamento do trânsito e sinais vermelhos!) – pobre homem, se pudesse fazia voar o carro!

Chegamos ao aeroporto às 19:50, fizemos o check-in e despedi-me de D. Idalina que seguiu apressada para a sala de embarque.

É que D. Idalina aspira a imigrante, mas pertence à terra!!!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Caloiros


Não há quem pense saber mais do que os caloiros. Os coitadinhos acabados de sair do Liceu com as cabecinhas frescas e repletas de sonhos, ansiando um futuro planeado há anos, não fazem a mínima ideia do furacão que lhes aguarda. Encontra-os ao acaso e ouve as perguntas que te fazem: "Passaste? Com que nota?" Os pobrezinhos não fazem a mínima ideia que às vezes o simples acto de passar já é louvável e plausível. Se foi com 10 ou 20 não interessa, pois um 10 às vezes vale 20! Perguntam-te com as suas carinhas sorridentes, inquietas, transparecendo felicidade e excitação, quantas cadeiras tens, respondes 5 e dizem-te: " só?" Sim porque eles sempre tiveram 8 ou 9. O que eles não sabem é que estas 5, cada uma vale duas, que multiplicadas por 5 dá 10 e no final tens 20 cadeiras para fazer num ano. Sim, eles esquecem que são 5 semestrais. Anual? Há anos que não ouvimos essa palavra. A vida na faculdade o que tem de boa tem de turbulenta. É aqui que se descobre todos os defeitos e qualidades pessoais e alheios. Os amigos? Vamos agora ver se continuas tendo 20 “irmãos”! Neste ambiente, se contares 2 no final do ano, acredita, és feliz! No Liceu os alunos são inteligentes, na faculdade são aplicados. A inteligência é um dom que poucos possuem. Se pensas ser inteligente porque há anos vens decorando meia dúzia de apontamentos horas antes do teste e no final sempre acabaste por tirar um 19, esquece…aqui a história é outra. Experimenta fazer isso e vais ver que aquele 1 à frente do 9 vai à vida! Há que ter força de vontade para dizer não às milhares de tentações que te surgem pela frente. Por incrível que pareça, este ambiente, oferece mil e uma oportunidades de diversão que podem fazer-te esquecer o principal objectivo. O que não falta são cartazes da associação de estudantes anunciando festas na praia, no campo, no salão da faculdade, as tunas fazendo espectáculos…. A maioria dos integrantes desses grupos que eu conheci, constituía a lista dos alunos com maior número de matrículas da faculdade. Não que a vida na faculdade seja má, longe de mim dizer tal coisa! Vivo grandes momentos na faculdade e digo a quem me perguntar que no dia em que tiver que abandonar aquela instituição sentirei imensas saudades. O que digo é que a faculdade não é nenhum mar de rosas, e portanto, há que saber receber a responsabilidade e encará-la como tal. Cada coisa a seu momento. Mas eles tomarão consciência disso mais cedo do que imaginam. A maioria dos caloiros choram logo nos primeiros dias de aula… eu fui um deles. Passados uns tempos encontra-os na rua, pergunta-lhes como vão as coisas e dizem-te… ah, sabes como é, vai-se andando… sim, eu sei como é… vamos andando. Há dias bons, há dias maus, mas vamos andando. E acreditem que quem chegar ao fim é campeão. Eu digo sempre que nem todas as pessoas foram feitas para a faculdade, ou melhor, para estudar. É normal, não somos todos iguais. Mas a “história” do curso tem vindo a tornar-se uma imposição, uma regra, uma obrigação. Os pais já deviam saber que alguns dos seus filhos não foram feitos para aquela vida. Mas, naquele sonho de ver a criança triunfar, continuam enviando-os para tentar a sua sorte. Muitos conseguem, é claro, e para esses continuo dizendo e repetindo: são campeões.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Infância


Éramos felizes e não sabíamos. Por algum motivo passamos a vida inteira a esperar pelo amanhã e esquecemos o hoje… o presente é que conta… mas isso é uma lição que a grande maioria nunca pôde aprender e colocar em prática… não gosto de julgar sem antes fazer uma análise pessoal, por isso digo que faço parte dessa grande maioria e anseio um dia poder aprender o contrário.

Frases feitas não faltam:

“Viva o presente”;

“Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje;

…livros de auto ajuda, gente que repete a frase mil vezes, quando no fundo elas mesmas não seguem o exemplo... já diz o ditado "faz o que te digo, não faças o que faço".

Ser humano é o ser mais imperfeito que há. Os mais racionais e mais estúpidos. Os mais inteligentes e os mais ignorantes… coisa estranha!

Ainda criança somos assim…. Éramos felizes e não sabíamos quanto. Tempo perdido a contar o dia para se tornar adulto, autónomo, alto… não sabíamos que até ser baixinho
era extraordinário. Hoje tenho desilusões quando vejo coisas que há anos atrás eram tão grandes e cativantes!
Até a montra de Natal lá da lojinha da rua desiludiu-me há anos… nunca mais vi nela nada que me cativasse… como ela era bonita e grande, tão encantada, tão brilhante, tão viciante. Foi-se! Uma vez comentei com alguém que a dona da loja desleixou-se com a montra de natal e os brinquedos que trazia, pois no meu tempo era bem melhor. A resposta veio simples e verdadeira: “Não foi nada, tu é que cresceste!” … pois é! Cresci e a montra decresceu. Tornou-se pequena, banal, nada de fenomenal.

Éramos felizes quando corríamos com os pés descalços, cabelo despenteado, melaço na boca, roupa furada e riscada, nódoas irreversíveis e estar simplesmente se “borrifando” por causa disso. Qual Skip? Qual salto alto, qual depilação, maquilhagem, briga de namorado/(a), chefe buzinando, alarme apitando, cozinhar, lavar, passar, normas de etiqueta, desilusões, depressões, insónias, falta de apetite ou apetite a mais, cabeleireiro, stress, dores de cabeça, TPM, bancos, poupanças, carteira a explodir de cartões, telemóveis, chamadas, sms's e blá blá blá. Coisa estranha…!

Diz-se que a felicidade é uma busca constante e concordo. Concordo porque no geral a felicidade nasceu connosco. Tínhamo-la adquirida quando viemos ao mundo. Com os anos ela dissipa-se a ponto de entrarmos “numa busca por ela”.

Hei de aprender isso. Hei de aprender que a “felicidade está na jornada”...se alguém disse isso é porque é verdade. A felicidade adquirida ficou lá atrás quando éramos crianças e nem sequer sabíamos. Ou se calhar até sabíamos… afinal não nos preocupávamos com isso nem entrávamos em paranóia só porque queríamos crescer e ser alto... Agora ela está no processo, na jornada, no hoje e não no amanhã. Hei de aprender... havemos de aprender!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Bus


Despertar para a segunda-feira é algo de extrema complexidade! Maldito despertador!!! Mais parece uma gralha… na verdade não importa o som que lhe atribuímos, uma canção de embalar, um funk tresloucado ou um clássico do Beethoven… a reacção é sempre a mesma – agonia pura que se manifesta no estômago como faca afiada!

Uma vez de pé a coisa fica mais fácil! O obstáculo maior já foi ultrapassado… ou pelo menos achamos que sim…

O dia começa normal, pequeno-almoço, vestir e aos poucos começo a sentir uma certa boa disposição… até que ele surja… o autocarro! Um veículo que foi criado com o intuito de ajudar os pobres coitados que não têm ou ainda não tiveram a oportunidade de ter o seu próprio meio de transporte… aquele que provavelmente terá ar condicionado, música, cadeira confortável…eu faço parte desse grupo maioritário de pessoas que ainda não teve essa sorte.

Actualmente, como está na “moda” o aquecimento global o nosso digníssimo “amigo” (não é assim que dizem? Amigo do ambiente?) é chamado para desempenhar a função de ajudar a combater este tão falado fenómeno global! Resumindo, colocamos essas pessoas que "graças a Deus" não têm um carro dentro do “amigo” e salvamos o planeta!

O resultado é simples e visível: Sardinha na lata! Enfrentar um autocarro é como enfrentar uma emboscada de búfalos que perderam o controlo e correm desalmadamente! Quando entramos no “amigo” temos duas hipóteses: Ou ele encontra-se vazio e temos de enfrentar um trajecto verdadeiramente malabarístico… eu diria até típico de um surfista! O desafio aqui é o equilíbrio! Mal a porta fecha-se, os nossos "bem-dispostos" condutores aceleram e daí … é contigo! Até chegar à cadeira mais próxima há que ser perito em equilíbrio e enfrentar as mais belas curvas e travagens que o rally mundial já assistiu!

Outra hipótese é ele já se encontrar absurdamente lotado e termos de lutar como tubarões para conseguir uns míseros centímetros quadrados de chão onde possamos permanecer imóveis até o nosso tão esperado destino! No entanto esta hipótese também é perigosa… é que aqui na maioria dos casos deparamos com autênticas armas humanas, mas digo humanas mesmo, no verdadeiro sentido da palavra! Alguém achou que por viver num país livre e independente faz da vida o que quer e os hábitos de higiene que se lixem! E como estamos todos esmagados uns aos outros já agora porque não partilharmos esses “aromas maravilhosos” todos juntos? E permanecemos ali num estado de sufoco até que chegue finalmente a nossa tão esperada e sonhada paragem. Descemos e seguimos em frente. Ao fim e ao cabo, sempre valeu a viagem… salvámos o planeta!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Criei meu blogue!!


Há tempos que ando a planear criar este blogue, meses msm! Sempre uma desculpa... nome do blogue, tempo para actualizar... hoje acabaram-se as desculpas. Li uma frase que dizia o seguinte:
"O tempo não pode ser gerido, apenas consegue gerir tarefas. Escreva-as no papel no dia anterior e quando acordar... faça-as!" (Earl Nightingale).

Por isso esta é a FRASE DO DIA, ponto.

O que pretendo com este blogue? Falar, comunicar, desabafar, partilhar...Sempre gostei muito de escrever, mas odeio diários... sei lá, aquela coisa de escrever e fechar a cadeado, deixar as folhas envelhecerem e as palavras serem consumidas pelo papel... tinta derramada e com sede de leitura. A verdade é que enquanto criança tive 2 diários... nunca concluídos. Dezenas de folhas limpas... caderno que só foi trocado pq a capa do outro era mais bonita :) coisa de criança msm...

Gosto de crónicas... retratos do quotidiano e das pessoas. Vidas comuns. Sou estudante, pobre como todos os estudantes! :D Mas tudo bem, não me perturbo com isso! Dinheiro nunca me deu dores de cabeça. Essas tenho com coisas maiores, que envolvam sentimentos.

E aqui vou contar minhas histórias. Meus dias, meu livro, minhas páginas :)

E para quem quizer partilhar comigo, benvindo! :)

Um beijo a todos ;)